Conto: O Último Sonho


Andávamos em patrulha por uma trilha em direção à estrada principal que contornava a montanha que estávamos protegendo, quando nos deparamos com os alemães. Eram poucos. Num primeiro momento, apenas três soldados conversavam diante da porta de um casebre semi-destruído. Talvez ele estivesse em ruínas devido a uma chuva de morteiros, mas isso pouco importava. Eram incomuns patrulhas alemãs com apenas três homens. Portanto, esperamos para ver se mais alguns se juntavam ao grupo.

Alguns minutos depois, mais quatro soldados saíram de uma outra casa mais ao fundo, fazendo-me correr um frio pela espinha, se atacássemos aqueles três sem esperarmos, seríamos massacrados pelos soldados que pensávamos estarem dentro da casa logo a frente, mas que na realidade estavam ao fundo, com visão perfeita para matar toda minha patrulha sem gastar muita munição.

Naquele instante, meus soldados apontaram para uma ‘lurdinha’ na segunda janela a esquerda daquela casa ao fundo, felizmente, o local onde estávamos não estava em seu campo de visão, mas acredito que mais alguns metros para a direita, estaríamos amplamente descobertos e consequentemente mortos. Aquela patrulha alemã parecia estar estabelecida ali por algum motivo, chamamos ao rádio e descobrimos que estávamos fora do alcance da artilharia, então não poderíamos dar as coordenadas para ‘fazer chover’ sobre aqueles alemães.

Alguns minutos depois recebemos a ordem direta para limparmos o local e nos estabelecermos por ali, com a incumbência de trocarmos de uniformes com aqueles soldados, por ora, tínhamos de fazer com rapidez, pois aquele era possivelmente o local que os comboios alemães usavam como ‘checkpoint’, enviando sinais para o acampamento principal de que estavam próximos. De fato, era evidente que aquele ‘acampamento’ serviria para alguma coisa, senão não perderiam tempo instalando aquela metralhadora na janela. Estávamos em seis, então decidimos nos separar e atacarmos pelos flancos, assim faríamos linhas de tiro em ‘X’, praticamente mortal, pois não haveria por onde escapar.

Acenei para que se preparassem e rastejamos lentamente até os locais estabelecidos, o sinal para abrirmos fogo era o primeiro tiro disparado pelo nosso atirador de elite, que, antes desse disparo, faria como alvo o alemão de maior patente e logo após, o atirador da janela, assim, teríamos tempo para avançar enquanto eles se organizavam, e não precisaríamos nos preocupar com aquela maldita metralhadora.

O primeiro tiro disparado atingiu o rosto do oficial alemão, manchando a parede atrás dele de sangue e fazendo com que os outros dois pulassem atrás de barricadas improvisadas, o segundo tiro atingiu o pescoço do atirador da janela, não podemos ver sua reação física, mas ele soltara um grunhido alto e que realmente me assustou. Avançamos e nos poucos metros que nos separavam dos alemães matamos os outros dois e nos abrigamos pois ainda havia quatro alemães que, ao vociferar do primeiro tiro correram para dentro daquela casa maior, ao fundo.

Nos restabelecemos e todos estavam bem, olhei furtivamente e vi que a porta estava fechada, dois de meus soldados entraram na pequena casa e confirmaram que não havia ninguém lá dentro, nosso atirador se estabeleceu nos entulhos de dentro da casa e tinha excelente campo de visão, dei ordens para que outros dois soldados viessem comigo, pedi para que os outros dois ficassem dando fogo de cobertura caso alguma outra patrulha alemã se aproximasse.

Corri em direção a porta daquela casa ao fundo e parei a cerca de um metro dela, encostado na parede, os outros dois fizeram o mesmo, me aproximei e com o pé, desferi um violento chute na porta, fazendo-a abrir tempo o suficiente para soltar uma granada lá dentro. O estampido e os estilhaços nos daria segurança para entrar logo em seguida, já não sabia se eram três ou quatro soldados lá dentro, mas o instinto fez-me contar quatro, era melhor assim, não corria o risco de sermos surpreendidos por algum soldado ‘fora das contas’. Ninguém no andar de baixo, isso era ruim, teríamos de estourar tudo com nossas poucas granadas restantes, ou subir e limpar a área na raça mesmo.

Decidi subir, ouvi o estampido de um tiro e um corpo caindo no andar de cima, nosso atirador estava fazendo seu trabalho, outro tiro, outro corpo caindo, subi a escada com minha sub-metralhadora apontada para cima, no final dela havia uma porta, parei e olhei, não havia ninguém no campo de visão, ouvi apenas a respiração ofegante de um soldado, entrei na sala e me deparei com o corpo daquele soldado estirado ao chão, ao lado do seu companheiro, já morto com um belo tiro na parte de trás da cabeça, qual fez seus miolos se espalharem por uma boa parte da sala. Ele ofegava, peguei minha pistola e resolvi lhe cortar o sofrimento, cravei dois tiros em seu peito, silenciando-o imediatamente.

Ouvi o ranger de uma porta e nos encostamos na parede, me aproximei vagarosamente, mas nesse instante ouvi um barulho estranho e senti algo que me fez olhar para baixo, incrédulo soltei minha pistola e cai de joelhos, nesse exato momento senti um calor estranho seguido de um calafrio que me arrepiou todo o corpo, num movimento lento e difícil, senti meu sangue escorrer pela minha mão, fora baleado em três lugares, todos sangravam muito, antes de cair, olhei para o atirador, um alemão alto, bradava algumas palavras antes de ser alvejado pelos meus soldados, foi quando cai e tudo a minha volta silenciou, meus olhos cerraram e estava tudo muito frio, senti o gosto de sangue em minha garganta e me dei conta de que aquele era o momento em que meu nome entrava na lista de soldados caídos em combate, a hora em que meu nome entrava na lista da medalha de honra.

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Agradecimentos ao Rob Gordon do blog Champ Vinyl pela revisão.

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